sexta-feira, 3 de setembro de 2010

180 - A Casa de Alice (2007)


Assisti esse filme a partir de uma citação referente ao mesmo que havia no livro "Nada a dizer" de Elvira Vigna. Digamos que o personagem principal do filme é a casa de Alice. Sim, porque todos os outros são protagonistas de suas próprias vidas. O egoísmo que guia a cada um dos personagens faz com que eles se retirem de sua própria narrativa e tornem-se meros acidentes casuais.

Alice é uma mulher-merda, vivendo uma vida de merda com ambições de merda e uma família de merda. Gosto de como o filme é irritantemente detalhado, extensivamente hiper-realista. A gente escuta o forró de Luiz Gonzaga tocando na varanda minúscula de azulejos ensebados. A gente vê o varal cheio de roupas penduradas, calças desbotadas. A gente vê até o detergente na garrafa pet de Coca-Cola. Isso tudo parece construir um cenário nauseante onde tem lugar essas existências-merdas coadjuvantes de si mesmas.

Esse talvez tenha sido o melhor filme brasileiro que já vi (O que não diz muito do cinema do nosso país). Não baterei o martelo e direi que é o melhor simplesmente porque não consigo lembrar muito bem dos outros. Destaque para a atriz Carla Ribas, com a interpretação muito convincente da manicure Alice que carrega no semblante um olhar ao mesmo tempo bobo e carrancudo. Gosto da cena em que ela chega em casa, senta-se na cama e solta um suspiro enquanto massageia o pé. Parece querer jogar fora nesse suspiro cada aborrecimento amontoado durante o dia.

Se você estiver se sentindo especialmente analítico e metafórico pode até ver ironia na escolha do nome da personagem Alice. No sonho de uma família ideal (País da Maravilha), que é o verdadeiro sentido de paraíso para o brasileiro médio, o sonho burguês de uma família perfeita, ela se perde em uma rotina típica de quem se absteve de fazer escolhas. Filme altamente recomendado do diretor Chico Texeira.

Nota: 9,5

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